25 de abril de 2010

— O sol está se pondo, você viu? A parte de baixo dele já começou a desaparecer no horizonte.
— Então a esta hora deve estar amanhecendo no Japão.
— Onde?
— No Japão. Do outro lado do mundo.
— Ah, os antípodas.
— Pois é, os antípodas.
— An-tí-po-da é uma palavra horrível, não?
— Melhor que artrópodes.
—Hein?
(silêncio)
— Eu quero me matar.
(silêncio)
— Eu estou apaixonada.
— Você quer se matar porque está apaixonada?
— Acho que sim.
— Mas você só tem dezesseis anos.
— E o que que tem? Não sei quem foi que disse que a gente devia se matar na adolescência, quando as coisas ainda são bonitas.
— As coisas não são bonitas? Não. Odeio cada pedra desta cidade. Cada porta. Cada casa. Cada cara que passa por mim na rua. Odeio, odeio.
— Mas não se mate.
(silêncio)
— Por favor.
— Por favor o quê?
— Não se mate.
— Ah, esquece. O sol está indo embora. Só falta um terço dele.
— Ninguém se mata por amor.
— Agora só tem uma lasquinha dele, bem vermelha.
— Olha, uma vez eu li um cara, um escritor chamado Cesare Pavese, que dizia assim:
“Ninguém se suicida por amor Suicida-se porque o amor, não importa qual seja, nos revela na nossa nudez, na nossa miséria, no nosso estado desarmado, no nosso nada“.
— E o que aconteceu com ele, esse tal Cesare?
— Se matou.

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